01 maio 2006

TEMPOS IDOS

Anos 60, início de carreira. Sou chamado para atender um paciente na Vila Progresso. Lá chegando, fui atendido por uma jovem, a qual viria saber ser neta do meu doente.

Casa simples móveis rústicos, porém impecavelmente limpa, com alvas toalhinhas e alguns bibelôs.

No quarto, sentado em um cadeirão, pernas pendentes, intensamente inchadas, respirando com muita dificuldade disse-me: doutor, não posso pagar sua consulta.

Sem responder passei a examiná-lo. Estase das jugulares, fígado grande, coração em ritmo de galope; diagnóstico fechado: insuficiência cardíaca congestiva. Recomendei que deveria manter-se em repouso, comidas com pouco sal e alguns remédios.

“Doutor, não tenho dinheiro para remédios.”

Fui até a conceituada farmácia do Sr. Gozano, na Hermelindo Matarazo, onde adquiri cardiotônico, diurético e um sal de potássio (era o que dispúnhamos na época). Despedi-me recebendo um “Deus lhe pague, doutor”.

Voltei a vê-lo por três dias consecutivos e depois no décimo dia, quando lhe dei alta após uma série de recomendações atentamente observadas pela neta.

Semanas depois atendo à porta de meu apartamento e lá estava o meu paciente, negro, barba e cabelo bem aparados, sorridente, respirando normal, com um pequeno pacote na mão.


“Sabe, doutor, eu sentia necessidade de retribuir sua atenção. Nada tenho, mas andei namorando um bonito mamão no meu quintal, um só. Mas eu também queria comer desse mamão. Decidi então dividi-lo: ESTA É A SUA METADE. QUE DEUS LHE PAGUE MAIS UMA VEZ, DOUTOR.”

A.C.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo meu vovô! Adorei a idéia do blog. Ja coloquei o ele em meus favoritos e esperarei por novas histótrias, fotos, etc. Amo muito você, vô! Beijos Fafá

Anônimo disse...

Amo muito você, pai. Muito mesmo. Sinto um enorme orgulho de ser sua filha e sua amiga.
Beijo com muito carinho,
Lígia

Anônimo disse...

Conti,meu Velho,estava certa quando o pedi em casamento e,você,mais certo ainda em aceitar.Dê só uma olhadinha no que resultou êsse consentimento .Uma família linda,que não para de crescer;mais de cincoenta anos,entre tapas e beijos(mais beijos que tapas),construindo tôda uma vida.
Se me fôsse dada a oportunidade de recomeçar,pode estar certo,faria tudo igualzinho,de novo.
Amo você e que Deus o conserve por longo tempo,ainda
Velha Déa

Anônimo disse...

Ai vó,
desse jeito a gente chora!
Amo muuuuito vcs,
beijos Fafá

Dea Conti disse...

Velho Pai,
Que esse espaço lhe seja muito proveitoso e que nele você possa continuar criando e ficar ainda mais pertinho da gente.

te amo, beijos
Velha Filha

Anônimo disse...

Ai que lindo, vô! Me fez lembrar uma experiência dessa na Paraíba, numa cidade no caminho de Guarabira. Ajudei uma moça, que tinha luxado o tornozelo, a entrar em casa. Estava inchado e ela urrava de dor. Tinha à mão a receita médica de um antinflamatório e algumas orientações do doutor da capital. Entrei em seu pobre casebre, pobre e sujo, para fazer xixi, e como não havia papel, ela me cedera uma camiseta velha tirada do "armário" para que eu me limpasse, e o fez pulando de um pé só, enquanto seu homem a assistia, sentando a frente da TV . Saí de lá e rumei direto para uma farmácia próxima, retornando com o medicamento. Ela não me deu nem a metade de um mamão, porque mesmo esta, se a tivesse, lhe faria falta, mas pediu que "a parte dela de Deus" estivesse sempre comigo.
Amo você, vô.
Cacá